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Mulheres na Música

Woman in Music

 

Em 2015, temas importantes da agenda política feminista ganharam visibilidade na internet e nas ruas do brasil. As manifestações tomaram uma proporção tão grande, que renderam ao conjunto de movimentos o nome de “Primavera das Mulheres Brasileiras”. Essa efervescência nas ruas e nas redes culminou na elaboração, por movimentos feministas, de hashtags como #meuprimeiroassédio, #todascontracunha, #estupronuncamais, #mexeucomumamexeu-comtodas, etc, que trouxeram à tona uma série de relatos de abusos contra os direitos das mulheres.

Na música não foi diferente. Entre 2015 e 2016, eclodem, simultaneamente em diversos pontos do país, movimentos de mulheres musicistas reivindicando equidade de gênero em seus espaços de trabalho. O papel de cantora já não poderia ser o único possível a ser ocupado. Compositoras, arranjadoras, produtoras e instrumentistas clamavam em uníssono pelos seus direitos.

Nesse contexto, em 2016, fui convidada a mostrar minhas composições (até então engavetadas, assim como parte da criação de muitas mulheres, como viemos a constatar mais tarde) no recém-criado “Sonora - Festival Internacional de Compositoras”. Nele, eu e diversas musicistas de variadíssimas trajetórias, assumimos pela primeira vez o papel central de compositoras. Desse passo importante, da potência que é entender-se parte de um movimento mais amplo, nasceu a necessidade de reunir forças para que essas conquistas pudessem ser coletivas. Em conjunto com Marcela Velon, Carol Panesi, Ilessi e, mais tarde, Maria Clara Valle, criamos o Coletivo Essa Mulher que, desde então, vem promovendo mostras, debates e festivais na cidade do Rio de Janeiro, no intuito de dar visibilidade à criação musical de mulheres.

A partir das vivências com o coletivo, da mudança lenta e gradual vivida no cenário da música nesses últimos anos, surgiu, por fim, a necessidade pessoal de concretizar, de transformar em objeto e também em informação nas redes digitais, toda essa riquíssima criação feminina, facilitando o acesso a essas obras.

O livro de partituras Emmbra nasce nesse contexto e celebra todos os movimentos de mulheres existentes, Brasil afora, que agitaram a cena musical nas últimas décadas. Cito alguns, sabendo que ainda há muitos trabalhos incríveis não mencionados aqui, de forma a inserir xs leitorxs, no contexto de nascimento desse documento.

 

EN

Back in 2015, major themes from the feminist political agenda have gained visibility on the Internet and in the streets of Brazil. Protests over the cause took on such a large proportion that they gave a name to the referred cluster of movements: the Brazilian Women’s Springtime. The spark that roamed the social networks and the streets culminated on the creation of multiple hashtags by feminist movements, such as: #myfirstharrassment, #allagainstcunha, #rapenomore, #allforone-oneforall etc. Those tags brought to life a series of reports of abusive acts which directly violated women’s rights.

 

It was not all that different with music: between 2015 and 2016, heated movements featuring female music artists, where they demanded gender equality in their workspace, occurred simultaneously in several areas throughout the country. Singing could no longer be the only part played by women in music. Female songwriters, instrument players, producers and arrangers vindicated their rights in unison.

 

That was the background when I was invited in 2016 to perform the songs I had written in the newly-founded “Sonora – International Female Songwriters’ Festival”. Those songs had remained lost in shelves up until then, much like a lot of other women’s creations – a subject which we will be tackling later. From that point on, the need to join forces in order to achieve those goals, so that such achievements would be collectively accomplished, was emphasized. Along with Marcela Velon, Carol Panesi, Ilessi and, later on, Maria Clara Valle, the Essa Mulher Collective was founded, which has, ever since, been promoting showcases, debates and festivals in Rio de Janeiro with the main purpose of providing recognition to women’s musical creations.

 

As of the experiences shared within the group and the slow and gradual change seen in the musical scenario over the course of the last few years, I began feeling a personal need to carry out, materialize and spread online all the richness in women’s creations so I could facilitate access to their works.

The Emmbra songbook was born in that context, and it celebrates all the efforts made by women from all over the world who have changed the music industry over the last decades. Knowing all the incredible works available out there, I will only mention a few of them here, as to give our readers an idea of this document's background.

ALINE GONÇALVES

 

ORQUESTRA LUNAR

2005 - RJ 

O grupo é formado por oito mulheres - sete instrumentistas e a consagrada Áurea Martins na voz. Com uma “cozinha” de peso e um vibrante naipe de sopros, apresenta arranjos compostos especificamente para essa formação. A Orquestra Lunar considera importante dar maior espaço e visibilidade às mulheres da música, sempre buscando incluir compositoras e arranjadoras em seu repertório.

The group consists of eight women – seven instrumentalists and the sanctioned singer Áurea Martins. Featuring an amazing rhythm section and a vibrant set of wind instruments, it performs arrangements which were specifically composed for the orchestra. Orquestra Lunar finds it important to give more space and visibility to women in music, always seeking to include songwriters and arrangers in their repertoire.

 

BAQUE MULHER

2008  -  PE

Fundado por Mestra Joana que entendendo a necessidade de trazer à tona discussões acerca do papel da mulher no maracatu de baque virado, idealizou e concretizou o Maracatu Baque Mulher, grupo composto somente por mulheres que cantam, dançam e tocam loas (canções) próprias, compostas enquanto instrumento de expressão feminina, luta e resistência pelos direitos das mulheres. Hoje o Baque Mulher se tornou um movimento social de alcance nacional que realiza ações em cidades de norte ao sul do país.

Mestra Joana, who has understood the need to bring forth discussions regarding the role of women within maracatu de baque virado, devised the Maracatu Baque Mulher, a group consisting only of female singers, dancers and songwriters who write songs as a means of female expression, as well a battle of sorts for women’s rights. Baque Mulher has become a nationwide social movement which performs in cities all over the country, from North to South.

 

FEMINÁRIA MUSICAL

2012  -  BA

Grupo feminista de extensão ligado ao Programa de Pós-Graduação em Música da UFBA que também integra a linha de pesquisa Gênero, Cultura e Arte do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM/UFBA). O grupo agrega professor@s e alun@s de diferentes unidades da UFBA e também artistas colaborador@s que têm contribuído de forma significativa para a pesquisa e para pensar novas propostas que unam pesquisa, produção artística coletivas e militância feminista, antirracista e LGBT.

A feminist extension program linked to the Graduate Music Program in UFBA, which also relates to a line of research regarding Gender, Culture and Art in the Center of Female Interdisciplinary Studies (NEIM/UFBA). The group includes female professors and students from all over UFBA, as well as collaborative artists who have contributed to the research and to the thinking of new proposals in order to link them with collective artistic production and feminist, LGBT and anti-racist movements in significant ways.

 

SÔNICAS – GÊNERO, CORPO E MÚSICA

2014  -  RS 

Formado por Antonella Pons, Ariadyne Ferranddis, Isabel Nogueira e Jalile Petzold, o grupo desenvolve trabalhos acadêmicos, artísticos e artivistas a partir da reflexão sobre os estudos de gênero, corpo e música como agenciadores de significado na criação sonora, performance e musicologia. Entendendo o conhecimento como corporificado e a partir da concepção de gênero, raça e etnia como marcadores políticos, buscam desenvolver o pensamento e a prática artística e criativa como vinculados tanto ao ativismo como à reflexão e produção teórica. 

Put together by Antonella Pons, Ariadyne Ferranddis, Isabel Nogueira and Jalile Petzold, the group develops academic, artistic and activist works based on the reflection about studies of gender, body and music as agents of meaning in song creation, performance and musicology. By interpreting knowledge as something corporeal and derived from the conceptions of gender, race and ethnicity as political markers, the group aims to develop the artistic and creative thoughts and practices, tying them to activism, reflection and theoretical production.

 

MENINAS DO BRASIL

2015  -  RJ 

Criado pela cantora e compositora carioca Luiza Sales, o projeto Meninas do Brasil surgiu em 2015 lançando uma série de vídeos com compositoras da cena carioca apresentando suas canções. Em 2016 produziu uma segunda temporada de vídeos gravados com artistas de Belo Horizonte e São Paulo, além do Rio de Janeiro. Em 2017, o projeto foi até Berlim onde Luiza gravou canções de compositoras brasileiras ao lado de artistas de 6 países. Em 2020 o projeto passou ao formato podcast, lançando episódios de entrevistas com 8 convidadas ao longo do ano.  O Meninas do Brasil segue atuando nas redes sociais colaborando com a divulgação de compositoras brasileiras da cena independente.

Created by Luiza Sales, singer and songwriter from Rio de Janeiro, the project was born in 2015, having launched a series of videos featuring local songwriters showcasing their songs. In 2016, it produced another series of videos recorded with artists in Belo Horizonte, São Paulo and Rio de Janeiro. In 2017, the project made it to Berlin, where Luiza recorded songs written by Brazilian composers along with artists from six other countries. In 2020, it became a podcast, with episodes featuring interviews with eight guests along the year. Meninas do Brasil is still active on social media, collaborating with the promotion of independent Brazilian songwriters.

 

REDE SONOSA - MÚSICA(S) E FEMINISMO(S)

2015  -  SP

Grupo criado no Departamento de Música da Universidade de São Paulo, é uma rede colaborativa que reúne artistas e pesquisadorxs interessadxs em manifestações feministas no contexto das artes. Surgiu a partir da necessidade de trazer visibilidade e possibilitar o diálogo sobre o trabalho artístico das mulheres. Desde então, fazem reuniões regulares com apoio do NuSom – Núcleo de Pesquisas em Sonologia da USP, com transmissão online e participação virtual de membrxs da rede. Sonora propõe a criação e ocupação de espaços, a realização de pesquisas e debates, e está envolvida em atividades musicais e sonoras de diversas vertentes.

The group, founded in the University of São Paulo’s music department, consists of a collaborative network that brings together artists and researchers who take an interest in the subject of feminist manifestations in the artistic context. It emerged from the need to bring visibility to women’s artistic works and to enable dialogues regarding those works. Since then, they have been having regular meetings, supported by NuSom - USP’s Center of Research in Sonology, featuring online transmission and online participation from members of social media. Sonora proposes the creation and the occupation of certain spaces and the promotion of research and debate, and it is involved in musical activities of various sorts.

MULHERES CRIANDO

2016  -  MG

O movimento Mulheres Criando surgiu a partir de uma iniciativa da musicista e compositora Deh Mussulini (Belo Horizonte) com o fim de romper com o imaginário de que existem poucas mulheres criando sua própria arte. Por meio do movimento, mulheres compartilharam, no mesmo dia, vídeos na internet com performances de suas próprias composições, a partir da hashtag #mulherescriando. A partir dessa ação surgiu a vontade e a necessidade de movimentar a cena musical belo-horizontina para mostrar essas mulheres ao vivo, o que resultou na Mostra Mulheres Criando, de idealização das compositoras e cantoras Deh Mussulini, Bia Nogueira, Amorina e Flávia Ellen (Coletivo Mulheres Criando).

The Mulheres Criando movement was created from an initiative taken by musician and songwriter Deh Mussulini (Belo Horizonte), who sought rupturing the idea that there were few women creating their own art. Through the movement, several women shared, on the same day, videos on internet featuring performances of their own songs, all underneath the hashtag#womencreating. From that, it arose the will and the need to shake up the musical scenario in Belo Horizonte, and the need to showcase those women’s works with live performances, which resulted in the exhibition Mulheres Criando, idealized by singers and composers Deh Mussulini, Bia Nogueira, Amorina and Flávia Ellen (Mulheres Criando Collective).

SONORA - FESTIVAL INTERNACIONAL DE COMPOSITORAS

2016  - Diversos Estados / Several States

As ações iniciadas pelo movimento Mulheres Criando inspiraram a elaboração do Sonora – Festival Internacional de Compositoras, idealizado por compositoras de Belo Horizonte, São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro, que contou, em 2017, com a adesão de mais de 15 países, 40 cidades no Brasil e 47 compositoras apenas no Rio de Janeiro, chegando a cerca de 80 cidades no mundo em 2018.

Festival Internacional de Compositoras – The actions initiated by the Mulheres Criando movement inspired the creation of Sonora – International Songwriters’ Festival, idealized by female songwriters from Belo Horizonte, São Paulo, Salvador and Rio de Janeiro, which, in 2017, was joined by people from over 15 countries, 40 cities in Brazil and by 47 songwriters in Rio de Janeiro alone. It also performed in 80 cities all over the world in 2018.

 

COLETIVO ESSA MULHER

2017  -  RJ 

Coletivo Essa Mulher é atualmente formado por Aline Gonçalves, Marcela Velon e Maria Clara Valle. Suas ações são voltadas para o incentivo e visibilidade da produção das mulheres na música no Rio de Janeiro através de festivais, mostras e rodas de debates. Os eventos são sempre registrados com intuito de preservar a memória coletiva de mulheres compositoras, construindo assim um acervo histórico e rompendo com a invisibilidade através de gerações. Ao longo de seus 5 anos de atuação, o Coletivo Essa Mulher reuniu 82 compositoras na Mostra Essa Mulher e no Sonora RJ, suas duas principais ações.

Coletivo Essa Mulher now consists of Aline Gonçalves, Marcela Velon and Maria Clara Valle. Its actions seek to promote the encouragement and the visibility of women’s musical Productions in Rio de Janeiro through festivals, showcases, displays and debate circles. The events are always registered in order to preserve the collective memory of female composers, thus building a historical archive and rupturing the anonymity that lasted for generations. Throughout its 5 years of activity, the group gathered 82 songwriters in the exhibition Essa Mulher and in Sonora RJ, its two main actions.

PRIMAVERA DAS MULHERES

2016  -  RJ

Criado coletivamente por mais de 40 mulheres, o grupo apresenta um espetáculo que é uma resposta ao cenário de crise política e de ameaças aos direitos femininos que se intensificou no Brasil nos últimos anos. O show-manifesto surgiu a partir das manifestações feministas ocorridas em novembro de 2015, num movimento que ficou conhecido como “primavera das mulheres” - nome que batiza o show. “O espetáculo tem se tornado cada vez mais um manifesto político, não apenas feminista. É um show que se renova cada vez que a gente sobe no palco. Há sempre uma música nova, um texto novo, como reflexo de algo que está acontecendo na sociedade”, conta Laura Castro, diretora da Primavera, ao lembrar que também são abordados o racismo e a LGBTfobia, dentre outros temas.

Created collectively by over forty women, the group presents a spectacle which is a response to the political crisis and the threats against women’s rights, both of which were aggravated in Brazil over the past few years. The show/manifesto emerged from feminist manifestations which took place in November, 2015, in a movement widely known as “Women’s Spring” – also the name of the show. “The show has become more and more like a political manifesto, not only a feminist one. It is renewed each time we step on the stage. There is always a new song or a new text which serves as a reflection on something that is going on in society”, says Laura Castro, director of the Spring, while remembering that racism and prejudice against the LGBT Community, among other themes, are also approached.

JAZZMIN`S BIG BAND

2017  -  SP

Pioneira por ser uma big band exclusivamente feminina, a Jazzmin's reúne 17 instrumentistas de várias tendências musicais e de diferentes gerações. O grupo apresenta uma sonoridade particular por ter em sua formação vibrafone, clarinete, clarone, trompa e flautas, além dos instrumentos tradicionais de uma big band. Algumas de suas integrantes fizeram parte do pioneiro Grupo Kali de 1985, provavelmente o primeiro grupo de música instrumental jazzístico feminino do Brasil.

A pioneer in being an exclusively female band, Jazzmin’s 17 instrument players come from various musical trends and different generations. The group has a unique sound to it, as it features a vibraphone, a clarinet, a bass clarinet, a French horn and flutes, as well as traditional Big Band instruments. Some of its members were part of Grupo Kali in 1985, likely to have been the first group of female jazz music in Brazil.

CHORA MULHERES NA RODA

2018  -  RJ

O projeto surgiu a partir da necessidade de ampliar espaço para a presença de mulheres no ambiente das rodas de choro. Antes da pandemia do Covid-19, promoviam mensalmente rodas de choro abertas, gratuitas e de troca, estudo e aprendizado coletivo, disponibilizando com antecedência nas redes sociais as partituras das músicas que seriam tocadas, o local e horário em que o encontro aconteceria. O estudo proposto é atravessado por conversas sobre a história do choro e fundamentos básicos do gênero, bem como pela prática conjunta das peças. A roda é aberta para mulheres e meninas de todas as idades e em qualquer nível de experiência em seu instrumento. Além disso, as monitoras do projeto Ana Carolina Chaves, Geiza Carvalho e Laila Aurore, formam o grupo regional Chora, que realiza shows e oficinas.

The project was born from the need to widen the space of the presence of women in circles of choro. Before the COVID-19 pandemic, it promoted open circles of choro on a monthly basis, which charged no fees and stimulated exchanges, studies and collective learning by making the sheet music regarding the songs that were to be played available early on social media, as well as the time and the place where each gathering was to happen. This study combs through several conversations regarding the history of choro e basic foundations of that genre, aside from the collective practice of all the pieces. The circle is open to women and girls of all ages, with any level of experience with their instruments. Furthermore, monitors Carolina Chaves, Geiza Carvalho and Laila Aurore are members of the regional group Chora, which gives performances and provides workshops.

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